CORONAVÍRUS: OS DADOS QUE PÕEM EM XEQUE IDEIA DE BOLSONARO DE ISOLAR IDOSOS


                                                                   imagem: pixabay
Se evitar o contato de idosos, o grupo mais vulnerável ao novo coronavírus, com filhos e netos já é um desafio durante a pandemia, um componente da realidade brasileira faz com que o isolamento de pessoas dessa faixa etária, como defende o presidente Jair Bolsonaro, seja uma missão muito mais difícil: cerca de 66% deles, ou quase dois em cada três, vivem no mesmo domicílio com alguém que não é seu cônjuge (familiar ou não).

"Esses outros parentes (além de cônjuge) ou não parentes vivendo com os idosos são mais frequentemente filhos e netos. É bem baixa a proporção dos que têm outros não parentes", explica à BBC News Brasil Simone Wajnman, pesquisadora do CEDEPLAR (Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional) da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais).

Atualmente, os idosos são cerca de 15% da população brasileira, ou 30 milhões de pessoas.

Dados do Censo de 2010 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostram que 66% dos idosos brasileiros moram com alguém que não é seu cônjuge ("familiares e não familiares corresidentes, ou seja, pessoas que declaram morar naquele domicílio. Pode haver cônjuge, mas nesse caso tem necessariamente mais alguém"), 21% vivem apenas com cônjuge ("não necessariamente um idoso, dada a diferença de idade entre homens no casamento") e o restante (13%) mora sozinho, "um porcentual muito mais baixo do que nos países desenvolvidos", destaca Wajnman.

"Quanto maior a idade do idoso (portanto, maior risco para desenvolver quadro grave da doença provocada pelo coronavírus), menor é a probabilidade dele viver sozinho ou só com cônjuge", lembra ela à BBC News Brasil.

"Portanto, temos uma correlação positiva entre letalidade da doença e probabilidade do idoso viver com mais gente em seu domicílio", acrescenta.
                                        

'Isolamento de idosos'

Em pronunciamento na TV na noite de terça-feira (24 de março), Bolsonaro causou polêmica ao criticar ações de confinamento e defender a reabertura dos comércios.

O isolamento social é uma das principais recomendações das autoridades de saúde, como a OMS (Organização Mundial da Saúde), para conter a propagação do vírus e evitar a saturação do sistema de saúde.

Segundo o Ministério da Saúde, 57 pessoas já morreram no Brasil por causa de covid-19, a doença causada pelo novo coronavírus. Em todo o mundo, são mais de 20 mil mortes.

Nesta quarta-feira, um dia após seu polêmico pronunciamento na TV, Bolsonaro disse que pedirá ao Ministério da Saúde mudança na orientação de isolamento da população.

O presidente defende que apenas idosos e pessoas com comorbidades (outras doenças) sejam isolados.

"Conversei por alto com o Mandetta (Ministro da Saúde) ontem (terça-feira). Hoje vamos definir essa situação. Tem que ser, não tem alternativa", disse Bolsonaro ao deixar o Palácio da Alvorada.

"A orientação vai ser vertical daqui para frente. Eu vou conversar com ele e tomar a decisão. Não escreva que já decidi, não. Vou conversar com o Mandetta sobre essa orientação", disse ele ao jornal O Estado de S. Paulo.

Segundo o presidente, cada "família deve cuidar dos seus idosos" e que o "o povo tem que deixar de deixar tudo nas costas do poder público".

"Você tem que pegar o idoso e isolá-lo, com hotéis ou em casa. Cada filho cuide de seu pai, poxa. Não quer que eu contrate uma pessoa para cuidar de cada idoso. É impossível", afirmou.

Fonte: BBC

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