REINVENTAR-SE DEPOIS DOS 60: IDOSOS SE DEDICAM A HOBBIES, DANÇA E ESPORTES

(foto: Mariana Machado/CB/D.A Press)
Quando tocam as primeiras notas de O Lago dos Cisnes, de Tchaikovski, as bailarinas, atentas, de meia-calça e saia rodada, assumem posição. Ao comando da professora, ficam na ponta dos pés, sobem os braços e executam os pliés. O único diferencial dessa turma é a faixa etária das alunas: a mais jovem tem 60 anos; a mais velha, 74. O curso de balé para idosos do Serviço Social do Comércio (Sesc) de Ceilândia é prova de que não existe idade para dançar, muito menos para ser feliz.

As 17 bailarinas da turma são uma pequena fração da parcela da população que, hoje, vive um momento emblemático. A projeção do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostra que o Brasil tem, em 2019, a maior expectativa de vida ao nascer da história: 76 anos. Com mais gente vivendo mais tempo, surge a necessidade de ressignificar a velhice e de levar a chamada “melhor idade” de maneira ativa.

Aos 65 anos, Vanir Alves vive uma fantasia da infância. Há um mês, ingressou no grupo de balé, mesmo com a cabeça cheia de dúvidas. “Desde criança, acho lindo. Quando ia dormir, eu me via como uma bailarina”, recorda-se a dona de casa. Depois dos primeiros passos, ela se encontrou, apesar de enfrentar uma fibromialgia — síndrome crônica, caracterizada pela presença de dores nas articulações e nos tendões. “A consequência disso é que eu estava deprimida. Não queria sair de casa, ficava indisposta. Agora, a dor e a tristeza foram embora”, comemora.

As aulas são uma vez por semana. A professora Raquel Xavier, 25, explica que, pela idade das alunas, é preciso tomar alguns cuidados. “Trabalhamos o corpo todo respeitando os limites de cada uma. Procuro fortalecer pernas, braços, cabeça, coluna e até a memória por meio dos exercícios”, conta. O retorno tem sido positivo. “Eu nunca tinha trabalhado com idosos. É uma experiência desafiadora. Muitas vezes, olhamos para os mais velhos achando que não dão conta, mas eles podem fazer o que quiserem”, completa.

Sem parar

Há mais de 40 anos, o Sesc mantém programas voltados à qualidade de vida de idosos. No Distrito Federal, cerca de 1,7 mil pessoas participam de atividades diversas em nove unidades. A maioria (80%) é de baixa renda. Coordenadora de assistência na unidade de Ceilândia, Adriana Costa explica que muitos participantes chegam às aulas após encaminhamento médico contra a depressão. “A expectativa de vida está acima dos 80 anos. Queremos que as pessoas envelheçam de forma ativa e que, apesar de doenças e limitações, possam ter controle da própria vida”, comenta.

Além das atividades físicas, o Sesc promove rodas de conversa e debates para tirar dúvidas sobre leis, direitos e deveres. “Fazemos ações educativas porque queremos empoderá-los. Temos idosos que precisam de cestas básicas e, às vezes, não conseguem pelo governo”, diz Adriana. “A maioria do público é de mulheres. Elas cuidam mais da saúde. Os homens deixam de vir por vergonha”, lamenta. Sabendo da importância de movimentar o corpo, Marinete Valério da Silva, 74 anos, é a bailarina mais velha da turma.

Moradora de Ceilândia, ela também faz aulas de teatro, ioga, hidroginástica e forró. “E ainda quero fazer coral”, completa. A paraibana trabalhava em uma loja na Feira dos Importados, mas, depois de ficar viúva, há 16 anos, colocou o comércio para alugar e resolveu se dedicar a cuidar dos netos. Há cerca de cinco anos, no entanto, ela decidiu priorizar a si mesma. “Eu vivia para a família. Hoje, estou vivendo para mim. Faço o que amo e, quando estou no palco, eu me transformo.” Marinete tem reumatismo e conta que, antes da mudança no estilo de vida, sofria muito. “Só vivia com dores. Todo mês, eu tinha ao menos uma dor de cabeça que me deixava acamada por três dias. Agora, não tomo mais remédio para nada”, comemora.

Fonte: Correio Braziliense

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